Diversificando o portfólio com ações globais

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Investidor brasileiro é um dos que têm o maior viés doméstico do planeta.

Sabe-se que a diversificação em classes de ativos com baixa correlação entre si aumenta a eficiência de uma carteira, reduzindo sua volatilidade. Nessa linha, o investimento em renda variável é uma importante alavanca para aumentar o retorno de um portfólio no longo prazo.

A alocação em ações é usualmente feita de três formas: escolhendo diretamente as ações e montando seu próprio portfólio; delegando o investimento a uma ou mais gestoras de fundos de ações; ou investindo em ETFs, fundos passivos que acompanhem um índice.

Mas considerando todas as possibilidades de investimento desenhadas acima, o que está claro hoje é que muito pouco do patrimônio do brasileiro é alocado em ações de empresas globais. O investidor brasileiro é um dos que têm o maior viés doméstico do planeta, direcionando 94% da alocação em renda variável a empresas brasileiras, e com sua alocação doméstica total representando aproximadamente 99% de seus ativos.

Comportamento esse um tanto quanto limitante considerando que o valor combinado de todas as empresas abertas do Brasil não corresponde a 2% do mercado global. A diferença de tamanho das bolsas brasileiras e americanas ou europeias é colossal, em quase todos os sentidos. Em termos de quantidade de empresas disponíveis para negociação, a praça brasileira é 20 vezes menor do que a americana ou europeia. Se fizermos um filtro, recomendável, de boas práticas de governança, esse número fica ainda mais desfavorável para o Brasil. Para além do menor tamanho, constatamos por aqui uma menor variedade de modelos de negócio listados em bolsa, assim como uma atuação geográfica mais restrita.

Para ilustrar na prática a consequência desse quadro, foi feito um estudo selecionando dez fundos de ações brasileiras com patrimônio líquido superior a R$ 500 milhões e que obtiveram os melhores desempenhos da indústria ao longo dos últimos dez anos. Quando observamos o conjunto dos papéis que representavam mais de 2% dessas carteiras, verificamos uma variedade baixa.

No todo, 71 empresas estavam presentes nos portfólios desses dez fundos, com uma sobreposição significativa: 31 delas, quase a metade (44%), aparecem mais de uma vez, e 14 ações aparecem três vezes ou mais. Fazendo o mesmo exercício para fundos de ações internacionais, seguindo os mesmos critérios de filtro, encontramos resultados bem diferentes. Das 95 empresas totais presentes nesses dez fundos, apenas 23 (ou 24%) se repetem, com apenas três ações aparecendo três vezes ou mais.

Ainda, se considerarmos o portfólio completo dos dez fundos de ações internacionais, incluindo agora as ações com menos de 2% de representatividade, temos um total de 949 ações, das quais 125 (13%) aparecem mais de uma vez. Já na amostra brasileira, temos um total de apenas 171 ações, dos quais 90 empresas (52%) aparecem em mais de um fundo.

Há lições importantes a serem extraídas desse estudo. Primeiramente, que uma boa alocação em renda variável não deve prescindir de uma parcela destinada a ações de empresas estrangeiras. Ao contrário, isso trará um maior benefício de diversificação dentro da classe de renda variável. São complementares, não substitutos. Além disso, pela característica de composição de portfólio a partir de uma bolsa com menos empresas e maior concentração setorial, pode-se esperar que, ainda que alocados em ótimos gestores locais, a correlação entre o desempenho deles provavelmente será consideravelmente maior do que a correlação entre o desempenho de gestores com escopo global.

Investir em ações de boas empresas é compartilhar da geração de riqueza produzida pelos melhores empresários e executivos. Não há sentido em se limitar apenas àqueles que o fazem no Brasil. Expandir o horizonte geográfico, no longo prazo, traz melhor desempenho com menor risco, o que deveria ser o objetivo de qualquer investidor. Buscar o melhor desempenho para a carteira deve passar por uma escolha criteriosa que tenha em mente a melhor combinação de alto retorno esperado com baixa correlação entre as partes.

Para conferir o artigo na integra, acesse: https://valor.globo.com/financas/coluna/diversificando-o-portfolio-com-acoes-globais.ghtml